quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fruta Podre (ensaio)

Andando pela feira, deparei-me com uma banca especialmente organizada, o que, chamou-me imediata atenção.

Frente a ela e diante de belas frutas, distribuídas e organizadas numa ornamentação ímpar e de fazer inveja aos concorrentes, fiquei maravilhado!

Como poderia aquele feirante ter tido ideia tão brilhante, fazendo com que sua criatividade despertasse a curiosidade de todos que por ali passavam; assim, auferindo-lhe bons lucros com a venda dos produtos.

Em meio aquele burburinho e atento a cada monte daquelas frutas, fiquei boquiaberto ao notar que a pilha de limões estava perfeitamente disposta em forma de pirâmide; fantástico!

Animado, imediatamente solicitei ao atencioso feirante que me separasse uma dúzia daqueles belos limões. Ao meu pedido o feirante começou a contar... Um, Dois, Três, Quatro... e assim foi até o décimo limão, quando então interpelei-o: Este eu não quero!. Surpreso o feirante interrougou-me: Porque?. É muito pequeno, bem menor que os outros e ainda tem, em sua casca grossa, uma mancha negra; respondi-lhe...

"Sim, este limão é pequeno e insignificante perante os outros, por isso é chamado aqui na banca de Deciminho Limão e vem de belo e bem cuidado pomar, porém; nasceu fraco. Esta mancha negra que o senhor em sua casca, é oriunda de sua natureza e foi agravada devido uma infecção adquirida de Manuka, o abacaxi podre aqui ao lado que, fracassado e cheio de chagas solicitou-lhe ajuda urgente. Deciminho Limão honrado com tamanho pedido de socorro foi em seu auxilio e, no afã de ajudar o antigo companheiro, acabou por contaminar-se ainda mais".

Ouvida a estória, fui incisivo: Este Deciminho Limão eu não quero, não pelo fato de ser pequenino, e sim, pelo fato de estar infectado e dele não posso extrair bom sumo!

Cabisbaixo o feirante ainda ouviu o meu conselho: Este abacaxi Manuka não lhe serve para nada; lance-o bem longe de sua banca, se possível lá para as bandas das Minas, de modo que exista poucas chances de alguém traze-lo de volta, caso contrário poderá contaminar todas as suas frutas!

Lançado Manuka, perguntou-me o feirante: E o que faço com Deciminho Limão? ao que, respondi-lhe: A negra mancha em sua casca grossa ainda é pequena e ainda não lhe afetou totalmente o interior e, afastado Manuka, o podre abacaxi que lhe agravou a peste, com força de vontade e perseverança, poderá o pequenino ao menos salvar-lhe as sementes que, bem plantadas, poderá no futuro dar bons frutos. Embrulhe-o separadamente dos outros limões, vou levá-lo e aplicar-lhe remédio amargo que, em muito, vai ajudar-lhe no tratamento.

Aliviado, o feirante sorriu...
Alipio Queiroz

(Este ensaio é obra de ficção do autor e qualquer semelhança com fatos reais, passados ou presentes, ou ainda, com pessoas falecidas ou vivas; é mera coincidência).

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